domingo, 23 de maio de 2010

Walter Cabral de Moura

FUNERAL
[autor da tela não identificado]

Havia uma multidão,
reunião de solidões
(somos pó, e ao pó tornaremos).

Nos olhos, oceanos;
nas almas, desertos
(no princípio, eram o abismo e as trevas).

Jogaram-se em silêncio as flores e as fitas
e só se ouviu a eloqüência da pá
aligeirando a terra.

Toda a gente mansamente dispersou,
voltando-se cada um
sobre seu vazio particular.


Walter Cabral de Moura

2 comentários:

  1. Walter, este seu poema reflecte bem o que se sente, no momento em que a terra engole o corpo de quem se ama. É impossível esquecer "a eloquência da pá", as "flores e as fitas" que caem sobre a terra, "em silêncio". Um silêncio que nos invade e toma conta de tudo como testemunha da dor e do vazio, num momento em que qualquer palavra seria um fardo.

    Um abraço
    Maria João Oliveira

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    1. É isso mesmo, Maria João. E seguimos depois com os nossos vazios, que tentamos preencher como podemos.

      Abraço

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