domingo, 4 de abril de 2010

- A diversidade poética de Antonio Adriano de Medeiros_


A METÁFORA DO GÓLGOTA

Talvez existisse ainda uma metáfora
nas cruzes de Roma no Monte da Caveira.
Talvez houvesse nas pendidas escápulas
um retrato da humanidade inteira.
Um terço de justos e dois terços de ladrões
talvez seja realmente a porcentagem
que retrata, nas mais devidas proporções,
os seres que trajam de homens a roupagem.
Um terço de ingênuos vive e morre em vão:
são os melhores homens, que têm um ideal.
Dos dois terços restantes, chamam de “mau ladrão”
àquele criminoso, o que perpetra o Mal.
O que sobra, afinal, é homem de valor,
pois todo bom ladrão é um empreendedor.

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Abrolhos


Não são mágoas
as águas
de meus olhos,
mas abrolhos
ao interlocutor.

Não há porto
em meu corpo,
só tempestade e dor.

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POEMA

Poesia não é só invenção pueril
de jovens descerebrados
pela efetividade de hormônios
cantados por galo Eros, nem tampouco
solilóquios de velhotas já distraídas
tentando mostrar que ainda têm reminiscências
como que faz seu tricô insignificante.
As palavras escritas sobre o branco
da folha de papel eventual
devem ser esperma de um experimento novo,
de um ser realmente original, cuspido
entredentes pela língua sábia de serpente
que se arrasta lenta e inexoravelmente
pelas ruas das metrópoles,
como é a humanidade quando nasce o sol.



A um Poeta Romântico


Ele é bonzinho e faz versos puros
sempre com mensagens de otimismo.
- Não procurem seus versos nos monturos
tristes onde reinam Sarcasmo e Cinismo!

"Arte é intriga!", repito Millôr;
mas o poeta nem liga o desaforo
e, indiferente a mais um mau agouro,
me oferece - Pasmem! - uma flor!...

Aceito-a para deixá-la apodrecer aos poucos,
curtindo a podridão que ela exala,
e, se não retribuo com versos bem loucos

dos que não hesitam em escarrar na sala,
não pensem que, quando calo, consinto:
não escrevo odes só porque não minto.


Antonio Adriano de Medeiros

5 comentários:

  1. Excelentes, Adriano! Parabéns!!!!!!

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  2. Olá, tudo bem?

    Foi Ana Merij quem selecionou os antigos. Gostei de reler Poema, nem lembrava mais.

    Grato por comnetar,
    AAM

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  3. O Antônio Adriano de Medeiros é um poeta de excelência. A excelência ganha-se com a cultura e o saber adquiridos.

    É sempre agrad ável reler poemas de absaam

    José félix

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  4. Terei imenso prazer em também comentar suas escritas. Espero que não receba de você uma flor...

    Até logo.

    Regina cnl.

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  5. Para mim é sempre um 'espanto' [no sentido mais fiel da palavra] ler-te; gostei de tua volta a nós -, e deixo aqui um enorme beijo.


    Eliana

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