sábado, 3 de abril de 2010

_ O exímio navegar poético de Manuel C. Amor_



Oficio de Viajador

“A música p’ra mim tem seduções de oceano! “
Às vezes
Quero ouvir o mar cantar vagas
a alvejar sons sonoros
músicas recobradas
à volta das noites obcessivas de solidão
que sempre vejo partir
entre ramagens de ouro
nas alvoradas propensas à ressaca da embriaguez.


Às vezes
Com vela a todo o pano
procuro navegar
até ao poema mais próximo

viagem regressiva aos ancestrais
para dar um sentido à exactidão do instante
e numa sede indefinível de explicação da vida
Celebrar o cacimbo matinal em nosso olhar.

Mas
sempre paro ofegante
a olhar esta paisagem insular
conspirando com a noite

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Oficio Nocturno

«A vida é uma vasta música suave»
Ruy Belo


Adivinho medos
Nos monólogos depois do jantar.

O bolor
monologando sobre a morte
alastra pela noite
dando consistencia a sorrisos anilados


E quando a tua respiração me sussurra
a nocturna saudade de não voltares
a sentir o cheiro
das laranjas orvalhadas da tua infancia

Uma cintilação de estrelas
refluge hipnoticamente
na marulhada nocturna

E o dia desagua
Num silente corpo aberto
Que espera àvidamente
Poder beber em teus lábios
Uma gota de àgua anisada.



Manuel C Amor
Horta- 2010
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2 comentários:

  1. Obrigada, Poeta, por se juntar aos da Esquina, Seus poemas são impecáveis. Neles, ou com eles, o real prazer de ler.
    Abs, anamerij

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  2. Amor,

    a tua poesia é África, um clima de calor e amor e dor, as palavras são horizontes de Línguas e alma de poeta.

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