sexta-feira, 2 de abril de 2010

- A musicalidade da poesia de Eliana Mora _


Ilha de presenças e ausências
como areias que vêm e vão a contornar
em sua terra estranha
sem futuro
pura entranha se autofage

atrai espumas jóias flutuantes
enfeites
de mulher vaidosa a receber o mar
dor de não mudar a própria arquitetura
abrir portos às nações
acomodar-se para enfim ficar
sem abrir lenços brancos em busca
de socorro

anseios e desejos de deixar
estrada e curva a mesma trilha
sem mudança
como ali a vida parecesse começar
instinto vegetal e animal
caos interno
tecla mater
bate
bate e finca na espinha dorsal
a inscrição do DNA

medo do encontro com o sentimento ancestral
ou simplesmente sal na língua
no mistério
no útero do mar

nesta e nas vidas de um seio mater mãe
teclado dedos
terra

[aqui ficar

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Poder enxergar além do belo



com olhos fixos
na tela desgastada
num pedaço de pano de atadura [de algodão, imagino]
vejo aparecerem figuras meio distorcidas
assim, pendendo para um lado, para outro,
para trás
polichinelos coloridos, saltitantes
de um palco que não há

poderia ser um deles,
por certo que sim

e por que não achar que o belo pode estar ali
justamente no que pende
no que vira
ou no que cai?
porque não tem espaço certo?

minha alma não possui
[assim como nenhuma]
a perfeição dos riscos de um esteta
mas isto nem importa
de verdade o que importa nela
é o que guarda
o que emana
o tipo de 'substância' que derrama ao ouvir algum
chamado

nada de perfeições
retoques maquiagens
fantasias
[ela que nos seja simples e fiel

e que por trás dos pequenos estilhaços nessa tela
possa ela nos ver
e delicadamente sempre ser
a prima-irmã de nossa consciência
viva

deusa dos céus na Terra
por todo o nosso Sempre

[inteira


Eliana Mora

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