sábado, 1 de maio de 2010

José Gil


PERFOMANCE

A Maurice Ravel e
Claude Debussy

a arte era pura nas três hipóteses da performance
a narratologia, o tempo de dizer  o ritmo
do tempo, a isócronas  do amor recíproco
na densidade do tempo da minha língua
na tua pele uma coincidência temporal
no estado da rosa e do esparguete de mar
das paixões onde é o mesmo arrepio do espumante
perante os nossos olhos a audiência difusa e sentida
uma guitarra de cerejas para o sal do corpo todo
a onda já está dentro de ti e a incontornável
língua, depois de toda a fértil floração  como
a alma do violino sem som, toca, toca é o que
suporta os dedos com risos , as pétalas voam
contigo no vento, envia o cavalo aos quatro ventos.



ÉTIMO

a “Bohemian Like You “
dos Dandy Warhols


em torno uma  sombra giratória,
e já é o dia azul  na plataforma
flexível de um beijo quente
como o teu chão numa unidade
de altura, a musica negra e acid

existe ou não existe no percurso
o equilíbrio harmonioso e branco
para te tocar o medo e a fuga
no vermelho moinho para te
cativar ao ar fresco do cativo
és ou não és. ficas a olhar
cativando nos braços do rio
Cabul, avança num caminho
sinuoso, étimo no teu tempo
azul, eixos em vez de corredores
ou ângulos e um percurso
labiríntico, cortina ao vento
começas recomeças, escrevo-a
no equilíbrio da noite escura
com sombras na parede – a
janela entreaberta  rente ao chão
o erotismo fresco das termas
suburbanas de Pompeia. Todos
contra todos nas cinzas do Vesúvio.
onde o vento não para de soprar
contra a cortina e as portas da
janela aberta contra o frio e a
solidão , contra as cenas oníricas
no mar da palha onde o desagravo
é o  teu corpo atlético de vinil
imaginário para um inventário
imbatível de portadas a bater –é a
agrura  através da janela onde te
escrevo para lá da noite da cortina
a lua abre-se á sombra do sentido
da sílaba de “tron” uma pressão
súbita, um medo insuportável, um
herói egípcio, a porta da sombra
na parede onde voar é o teu ar
visível e fresco dos meus dedos
no teu olhar. os Deuses morrem
sempre no caminho, nos braços do
Tejo, percurso sinuoso, tempo  rosa
dos teus corredores, os seios ao
longo das margens do rio em
espectro, saltitantes entre lugares.



VOLTA

Devagar o texto organiza-se
contra a parede do sentido.
Volta. Inquietos os lábios
inventam o chão, os dedos
tocam a febre que te leva
solta ao cavalo que te espera

na pedra nua do leite
da parede que te bate
contra o limbo da noite
a noite dos dedos a noite
da mão – um só corpo
sentado nu na estrada do
fogo verde, o triangulo
do texto migrante ao
sabor do vento sem eixo
acinoma, descubro o presente
a identidade, o território da
dádiva, na cabeça o beijo

a musica, então  a sílaba
inventa o bloco transparente
do texto e da noite no arco
transversal ao corpo, deleita-se
na tua margem nua, o seio

José Gil
 

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