A VOZ DO MEU SILÊNCIO
cláudia helena villela de andrade
A voz que me fala é breve.Não me amanhece.Não me alisa.Não me beija a boca.Vacila na adrenalina do trapezista ena coragem do domador.Fareja esconderijoem sinagogas, mesquitas e igrejas.Procura castigo, perdão e razãonos sete pecados capitais.Freqüenta terreiros, lugares suspeitos.Aguarda vento Norteque chicoteia o corpo.A voz que me fala também grita.Mas eu me calo, para não me desarmonizar.Não transbordar afeto,não me fazer infeliz.Às vezes, nem sabe que existoporque ando com os pés no chãopara não despertá-la.Para não reconhecer tons gravese me perder em harmonias agudas que desconheço os ritmospodendo, sem querer, virar hinos.A voz que me fala me vicia.Compassiva, me silencia.Esvazia minha sementeira e colhe razões.A voz que me fala arrepia.Deseja minha flor, minha sabedoria.Não rega.Não fertiliza.Não ara minha terra.Não gira meus chacras.Não me magnetiza.Apenas deixa-me em transe.A voz que me fala distancia-me das quimeras.Não me sussurra.Não lambe meu sereno.Não me cobre corpo, nem me vela sono.A voz que me fala só me faz escutar quando morre,no silêncio da hora exata,depois do eco, depois do suspiro, depois do alívioda minha paixão satisfeita.Mas o que ela me fala, mesmo na morte,nem sempre quero escutar.Porque o silêncio é minha voz, sempre.Na vida.Na morte.Em qualquer lugar.
sábado, 3 de julho de 2010
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Belíssimo Claudinha. Aliás, como tudo que você escreve. Eu tenho um poema, FALA DO SILÊNCIO...
ResponderExcluirBeijos, obrigada pela beleza e parabéns
Elane
terrivel essa letra que massacra com beleza! parabens! Rubem
ResponderExcluirClaudim,
ResponderExcluirUm poema de ler e reler, e reler. Forte , afiado e calado, como a faca que fere , e apalvra que sangra.
Grandioso!
Bjs, nana