_ ROGATÓRIO _
daí-me, senhor:
qualquer fatia de tempo sem uivos, sem gemidos
uma parte de alma que me falta, arrancada no grito
dái-me o credo como ungüento para essa minha fé rasgada
e o poente, senhor, para os joelhos vergados na hora sacra
daí-me, senhor:
uma tarde plena de borboletas lépidas e serenas
dai-me a palavra desnuda de iniqüidades e da dor
semeia, senhor, no meu olhar a quietude de lírios dos campos
livrai-me, suplico, do clamor dos inocentes e dos proscritos
do azeite e do vinho vertidos nas catedrais da ignomínia
dai-me o desmemoriar das epistolas flácidas dos sacerdotes
de oficio pirotécnico, carnavalesco e ensandecido
poupai-me, senhor,
da miséria dos desprezíveis
do ventre prenhe da menina de rua
dos maltrapilhos amontoados nos albergues e abrigos
das mães da sé chorando seus filhos
do lixo-homem queimando nas calçadas
de todas as izabelas agonizantes nos meus dias
para minha memória, dai-me senhor
as letras do mais absoluto esquecimento
e, um qualquer milagre:
[- preciso!]
anamerij
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